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Aguirre, der Zorn Gottes (ou Aguirre, O Aventureiro) é um objecto estranho mas identificado, não estivesse na cara (do Klaus Kinski) ser de Herzog. Num momento sofrível para a tripulação de uma jangada em crise de ansiedade, um pobre coitado refém do doidivanas seu líder, enquanto se tenta proteger das flechas lançadas pelos índios desde a vegetação cerrada, exclama «Não me pagam para morrer!». É muito bem visto. É inclusive muito bem visto junto de pessoas mal vistas como Klaus Kinski, que ameaçado por Herzog com um revolver, se vê obrigado a terminar o filme que quis, a dada altura, abandonar. E nós? Nós também somos atravessados por flechas e não abandonamos o barco. Mais tarde ou mais cedo, naufragamos. Não nos pagam para morrer, mas morremos sem defesas, vítimas do mais implacável índio invisível na paisagem. Tantas petições e nenhuma contra o Cupido, um estupor que tantas vezes se assemelha, ele sim, ao «grande traidor», à «Ira de Deus».