What a way to start a fire

Gosto de mulheres de facas nos bolsos. De vez em quando a faca rompe o bolso, ela nem queria. Gosto de mulheres assassinas por acidente. Mulheres que carregam a iminência de um desastre no sorriso. De vez em quando o sorriso descai para o punho fechado e abre-se a mão ao golpe. De vez em quando o golpe acerta nela própria. Normalmente, os pequenos crimes matam mais que os noticiados no jornal. A doçura também pode ser um crime, mais certeiro que qualquer outro e bem em cheio no peito. Algures entre a doçura e a demência, está a Scout Niblett, num (des)equilíbrio de forças. Há cinco anos que me diz ao ouvido que a febre pode salvar aquilo que a sanidade não consegue. A Scout Niblett e a sua voz de lâminas debaixo da língua são presença habitual nas nossas noites como dj’s – por coincidência, é o primeiro nome que me lembro de passar numa noite acelerada (o tema Big Bad Man) e é o primeiro nome que me lembro de passar numa noite calma (o tema Wet Road). Não é exagero dizer que continua a parecer-me irreal a iminência do concerto da Scout Niblett no Mercado Negro. Os sonhos não costumam concretizar-se, muito menos excendendo-se a si próprios. O que quer que seja que aconteça hoje à noite, ficará para a história – para a história do Mercado Negro, para a história da música, para a história das nossas vidas-todas-fodidas, para a história dos nossos corações remendados.