Mister!, mister!, I have a tiny tiny bruise, right here. It really hurts! Can you see it?
Um dia voei – sem metáforas e sem eloquência. Se o voo se deu por impulso de uma bicicleta em pino, tal é um pormenor (será?). Qualquer voo que se preze acaba em aterragem, diz a lei da gravidade – e foi, de facto, grave. A minha deu-se no alcatrão, e em grande. Tudo pela animação da pasmaceira das terras alentejanas, que é como quem diz Arraiolos, porque me tinham alertado de que lá não se passava nada. De facto, era verdade, que o pessoal médico (ah. ah.) do Centro de Saúde da terriola até franziu o sobrolho à obrigação de levantar o rabo do cadeirão, ao mesmo tempo que interrogava: já chegaram os aliens? É agora, santíssima? Mas estou a adiantar-me. Como boa moça de educação católica que sou, dei a minha face (esquerda) ao embate, e entenda-se por face toda a metade esquerda do corpo. O que significa ter poupado a metade direita e ter decidido estuporar a esquerda não sei, e gostaria de pensar não ter sofrido uma queda freudiana de motivações políticas, até porque eu ia jurar que teria preferido estuporar o outro lado. Querem que eu passe à frente e relate de uma vez por todas as mazelas, não é? Azarinho, não o farei. Serve esta história para homenagear o meu sentido de humor, o verdadeiro resistente à desgraça. Eu, que sou alarmista e paranóica, fui dando provas várias ao longo da vida (houve acidente muito pior aos oito anos) da minha faceta contraditória, ao conseguir manter a calma ou até a conseguir brincar em situações de (auto)desgraça. No caso, valeu-me estar com amigos, que imediatamente se acercaram, deparando-se com um corpo imóvel no meio da estrada, pontuado por um rosto sorridente que perguntava: acham que parti a bacia? Serve esta história também para pintar (ou tirar a pinta a)o povo alentejano: é mesmo verdade que não há nada que os abale. Não se passa nada? Olhe, acabou de aterrar um meteorito, compadre. Eh pá, já lá vamos (amanhã ou assim). Passavam carros e nenhum parava. Eu acenava-lhes e ria-me, voltem sempre, que amanhã, por este (não) andar, ainda cá estará a aberração para mostra. O pior foi depois, quando me levantaram e optaram pelo baixar do véu sobre a anca, que revelaria a origem da minha dor. Aí, não houve sentido de humor que resistisse. No fundo, serve mas é esta história para falar do quão ridículos conseguimos ser: com dores e estatelada no chão, estava-se mesmo bem. Ao vislumbre da ferida, funda e feia, ia desmaiando.