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Apesar de saber-se atraída, reprimiu o desejo de lhe tocar. Pressentindo uma nebulosidade danosa, insistiu no olhar, esperando obter uma visão clara. Desenhou com os seus próprios olhos um traço imaginário e percebeu que da divisão do semblante em dois resultava uma dualidade moral: testa, olhos, nariz – metade acolhedora; boca, queixo, barba – metade temível. Os dentes a entrever-se nos lábios quase inexistentes, chamavam à trama uma densidade animal e perigosa – todos eles caninos. Os seus dentes afiados não ofereciam almofadas para encosto prévio. Dali, saía-se mordido. Do toque, imediatamente a ferida. Sem salvação, sem amortecimento, sem retorno e, do contorno, a marca.