You’re not that tough

Não sou uma pessoa empática. Sei que não teria perfil para trabalhar em hospitais a aliviar a dor dos enfermos. Há dias, a minha empregada agarrou-se a mim em pranto e eu não soube se lhe havia de retribuir o abraço. O meu gesto resultou numa espécie de abraço manco, acompanhado de palavras atropeladas pelo desconforto. Parece que tenho uma deficiência emocional, uma peça em falta, aquela que nos permite facilmente colocar-nos no lugar do sofredor e sentir o que ele sente e agir em conformidade, com a doçura que advém dessa compreensão. Os primeiros contactos são geralmente enganadores. Tenho um rosto fechado. Averiguo a existência de certas características na outra pessoa antes de o abrir.


É como ter uma espécie de empatia em funcionamento radar: detectados certos pontos de interesse, ela actua. A atenção é agora genuína e a disponibilidade automática. Não é fácil admitir o que não joga a meu favor: não sou muito tolerante. Mantenho distância. Olá, tudo bem? e constato que me esqueci de sorrir. Mas nem sempre me apercebo da minha postura e é por isso que por vezes me choca saber que certas pessoas me acham antipática. E eu a achar que era tão simpática. Não existe orgulho nem arrogância nesta confissão. Não ser empática é um defeito. Sê-lo demasiado também. É desinteressante conseguir ler uma pessoa imediatamente e demasiado bem. Pouco espaço resta para a criação da expectativa, para o advento da surpresa.


A pessoa que não percebe existir em mim doçura iminente jamais se sentirá intrigada pela ambiguidade. As nossas melhores qualidades, como a capacidade para sermos doces, em pessoas pouco empáticas, só se manifestam perante outras que vão demonstrando merecê-lo. A nudez não é um acto. E muito menos se esgota em si mesma. Não acontece, vai acontecendo.