What's wrong with us?

Se Wes Anderson desenhasse as suas personagens, do traço resultaria uma caricatura. Não uma caricatura tradicional, com traços proeminentes sublinhados para efeitos de escárnio, mas uma caricatura que amplia idiossincrasias. Wes Anderson recorre ao nonsense e ao exagero para amplificar o nonsense que reveste a normalidade das nossas vidas. O absurdo nunca nos distrai da mensagem e nós rimo-nos e sorrimos por dentro. Reconhecemos o jogo. É-nos tudo muito familiar. A vida rouba-nos a inocência tanto quanto nos rouba os anos. Custa crescer. Custa ainda mais crescer tentando preservar uma parte de nós pura, uma que resista, uma que ainda saiba reconhecer a inocência para quando é preciso fazer uso dela.


A composição espacial e a cor dos cenários são estudadas até ao mais ínfimo pormenor e é curioso que esteja tudo tão bem enquadrado para albergar personagens tão desenquadradas na vida. É este o poder de uma fotografia Anderson: a aparente contradição entre a absoluta harmonia e a estranheza dos corpos que a habitam. Mas a contradição não existe. Porque se todos os objectos estão no lugar, não interessa demorarmo-nos sobre eles. Os elementos visuais redireccionam-nos os olhos para o centro. Concentremo-nos nos desencontrados, aqueles homens cheios de fé inabalável que nos olham. Fitamo-nos mutuamente. Compreendes-me tão bem quanto eu a ti?