Au Revoir Simone

A força das Au Revoir Simone é também a sua fraqueza. Gostamos da harmonia dos teclados, das vozes suaves niveladas em coro, das melodias pop perfeitas. São 3 cabelos longos-lindos, 3 vestidos curtos, a revestir as pernas 3 collants a terminar em 3 pares de sapatinhos. As Au Revoir Simone são bonecas. O problema das bonecas é serem impecáveis. O problema destas bonecas é a ausência de sujidade. A ausência de perversidade. As meias não exibem buracos, os vestidos não levantam o suficiente para lhes vislumbrarmos as intimidades, os cabelos agem impecavelmente sem agir, prostrando-se sobre os ombros, roçando nas cintas. Nem um cabelo fora do lugar. As músicas acabam tal como começam: sem dor, sem rasganços, sem espetos, sem espinhos, sem atropelos, sem cuspo a crescer nos dentes, sem contorções no peito, sem contorções nos músculos, sem pressões descontroladas no teclado, sem gritos, sem gemidos. Os anjos não têm qualquer interesse. Os anjos são simples. A complexidade chega-lhes com a sujidade. Os anjos querem-se sujos. Querem-se caídos. Querem-se cravando as unhas em tudo o que se lhes cruza durante a queda. Às bonecas, sempre gostámos de lhes cortar o cabelo, sempre gostámos de lhes pintar as sobrancelhas de azul, sempre gostámos de lhes arrancar as pestanas. Está-nos no sangue a corrupção. As bonecas que não se deixam corromper acabam no lixo. Sempre tive apenas uma Barbie – fiquei-lhe com a cabeça, o cabelo navalhado e espesso.